Quando eu saí de Recife, só pensava em meu luto.
Eu não queria ficar na casa da minha avó sem ela lá. Eu sei… pessoas morrem e temos que viver com isso. . . Talvez tenha pego minha família de surpresa. Pra quem vivia enfurnada dentro de um quanto, mudar para outro país, sem nunca nem ter saído da casa dos pais, deve ter preocupado a todos.
Vejo pessoas indo para outro país em busca de alguma coisa. Segurança, dinheiro, paz. Sei lá, sonhos.
Eu simplesmente fugi dos meus próprios sentimentos. Dos meus pensamentos sombrios. Menti um pouco também pra todos que me perguntavam meus motivos. Achei melhor do que dizer que fugi.
Eu vim pra Lisboa porque Recife dói. Não importa a quantidade de terapia, Recife sempre vai doer.
Quando vejo outros imigrantes sempre me pergunto: emigrou por quê?
Sabe o que é engraçado? No primeiro ano, eu vivi o início de um romance. Foi mesmo perfeito. Parecia que todos os meus problemas haviam ficado em Recife. Deve ter um nome pra esse sentimento inicial, mas desconheço. Acho que é porque eu não tinha tempo de pensar sobre eles. Tanta coisa nova pra ver e experimentar e sentir.
Tipo, eu nunca havia sentido essa liberdade toda.
Hoje, que esse sentimento esfriou, eu percebi que meus problemas sempre estiveram comigo. Só que presos numa espécie de gaveta mental. E abri a gaveta, infelizmente.
Vou tentar manter esse blog pra mim mesma. Pra tentar trabalhar com o conteúdo da gaveta sem surtar.
Vou falar da minha vida aqui em Lisboa, dos lugares, dos sentimentos, das comidas, vitórias e derrotas, porque parece que não se pode ter tudo.