[Parte #4] – Empatia

Fonte: ‘How To Write a Damn Good Novel’ de James N. Frey.
Tradução quase literal por: Mia
PARTE 4 – EMPATIA 

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Apesar de sentir pena de um personagem que está passando por, digamos, solidão, o leitor pode não sentir realmente a solidão dele. Mas através da empatia com o personagem, o leitor sentirá o que o personagem está sentindo. Empatia é uma emoção muito mais poderosa do que a simpatia.

Às vezes quando uma esposa está para dar a luz, o marido também sentirá as dores do parto. Esse é um exemplo de empatia; ele enfatiza ao ponto de realmente sofrer, sofrimento de dor física.

Digamos que você vá a um funeral. Você não conhecia o falecido, Herman Weatherby; ele era irmão da sua amiga Agnes. Sua amiga está de luto, mas você não. Você nem conhecia Herman. Você sente pena de Agnes porque ela está muito triste.

O velório ainda não começou. Você e Agnes vão dar uma volta pelo jardim da igreja. Ela começa a contar a você como Herman era. Como ele estava estudando para ser fisioterapeuta e poder devotar sua vida a ajudar crianças especiais. Como tinha um senso de humor maravilhoso e fazia uma ótima imitação de Richard Nixon e uma vez na faculdade jogou uma torta na cara de um professor que o deu nota 4. Parece que Herman era um cara legal.

Enquanto Agnes trás de volta a vida de seu irmão, você vai o conhecendo e começa a sentir algo além de mera simpatia. Você começa a sentir a perda que o mundo sofrerá por aquele homem inteligente, criativo e maluco… você começa a sentir empatia pela sua amiga, e agora você começa a sentir o luto dela. É esse o poder da empatia.

Agora como um escritor de ficção consegue fazer com que o leitor sinta empatia?

Digamos que você esteja escrevendo uma estória sobre Sam Smoot, um dentista. Sam é viciado em jogos de azar. Ele perdeu 2 milhões para um criminoso e está falido, assim como sua família arruinada. Como fazer o leitor empatizar? O leitor pode sentir pena de sua familia, mas também sentir que Sam teve o que mereceu.

Ainda assim você pode ganhar empatia.

Você o faz usando o poder da sugestão. Você pode usar detalhes emotivos e sensíveis que sugerem ao leitor o que é ser Sam Smoot e sofrer o que ele está sofrendo. Em outras palavras, você cria a história do mundo de tal maneira que os leitores possam se colocar no lugar do personagem:

Um vento frio soprava pela Main Street e a neve molhada já tinha começado a cair. Sam sentiu os dedos dormentes em seus sapatos, e a fome em sua barriga começara a remoer novamente. Seu nariz escorria. Ele o limpou com a manga, não mais se importando com sua aparência.

Usando detalhes emotivos e sensíveis, você leva o leitor a experimentar o mundo que Sam está vivendo. Você pode ganhar empatia por um personagem detalhando emocionalmente o ambiente: os sinais, os sonhos, as dores, os cheiros, assim como o que o personagem está sentindo… os sentimentos que dão origem as suas emoções.

Sam acordou no terceiro dia e olhou ao redor. A sala tinha paredes e cortinas brancas, perto da janela. Uma grande TV estava presa no alto da parede. Os lençóis estavam limpos e cheirosos e havia flores na mesa ao lado da cama. Ele sentiu seu corpo. Era difícil dizer que estava ali porque não estava frio e nem doendo. Nem doía sua barriga, que já vinha doendo há tanto tempo…

Detalhes tão emotivos, através do poder da sugestão, evocarão as emoções dos leitores e propiciarão sua empatia. Aqui vai um exemplo de detalhes emotivos:

Carrie, A Estranha de Stephen King:

Ela [Carrie] colocou o vestido pela primeira vez na manhã de 27 de maio, em seu quarto.  Havia comprado um sutiã especial que dava uma levantadinha em seus seios… Vestí-lo lhe deu uma sensação estranha e sonhadora, metade vergonha e metade desafiadora.

Perceba como os detalhes (o sutiã, a levantadinha) e a emoção (estranha, sonhadora,  metade vergonha, metade desafiadora), estão amarradas juntas. Alguns parágrafos depois, a agressiva mãe de Carrie abre a porta.

As duas se encararam.
Inconscientemente, Carrie aprumou as costas até ficar rente ao freste luz do sol da primavera que entrava pela janela.

Esse endireitamento é a simbologia do desafio, uma poderosa emoção ligada ao sensível detalhe do freste de luz.

Simpatizamos com Carrie porque sua mãe a persegue. O leitor se identifica com seu objetivo de ir ao baile e empatiza com ela porque o autor cria a realidade com detalhes emotivos e sensíveis.

Aqui mais um exemplo, em Tubarão:

Brody estava sentado numa cadeira no deck, tentando se manter acordado. Ele estava com calor e todo grudento. Não havia nenhuma brisa durante as seis horas em que esteve sentado e esperando. Sua nuca já estava queimada do sol e toda vez que mexia a cabeça a gola de seu uniforme arrancava sua pele sensível. O odor do seu corpo subia até seu rosto e,  misturado ao cheiro de sangue e tripas de peixe jogadas ao mar, o deixava nauseado. Ele se sentia escalfado.

O leitor é colocado naquela cadeira, sentindo as marcas da gola, o calor, a náusea. Brody está num desagradável padrão, esperando pelo tubarão.

Simpatiaidentificação e empatia o ajudam a criar um laço emocional entre o leitor e os personagens. Nesse ponto você está à beira de transportar o seu leitor.

— Nos vemos no próximo post sobre O LEITOR TRANSPORTADO! —

ps: penultimo post da série How To Write a Damn Good Novel’ de James N. Frey.

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